Pastel de Data #27 • Maio/24
Bem vindo à newsletter do Data Visualization Lisboa.
Sondagem das Sondagens
A Sondagem das Sondagens é um agregador de, desculpando a redundância, sondagens. Isto quer dizer que junta estudos de opinião política feitos por casas de sondagens ou instituições de ensino superior sobre legislativas. O projeto já existe sob a alçada da Renascença desde 2015 mas, com as eleições de 2024, a equipa renovou a estrutura, a imagem e a metodologia.
Durante este processo, a Renascença contou com o apoio de Luís Aguiar-Conraria - investigador, professor e atual presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho -, e recorreu ao método adotado pelo projeto POPSTAR (Public Opinion and Sentiment Tracking, Analysis, and Research), então coordenado por Pedro Magalhães, politólogo e investigador.
Diogo Camilo: Natural de Tomar, licenciou-se em Química Medicinal na Universidade da Beira Interior e foi na Covilhã que mudou de rumo para o Jornalismo. Passou quatro anos na revista Sábado a ganhar o bichinho pelo jornalismo de dados e desde 2022 que faz da Renascença o seu laboratório.
João Pedro Quesado: Minhoto, formado na Universidade do Minho, e jornalista desde 2022 após alguns anos como assessor de comunicação. É interessado em mobilidade e transportes, mas também em quase todas as outras coisas. Adepto de F1 desde sempre.
Salomé Esteves: Para além de fazer parte do DataVis Lisboa, é jornalista visual e de dados. Mas como não lhe é natural fazer uma coisa só, é também professora de Visualização de Dados e de Infografia na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Lisboa. Concluiu o Doutoramento na mesma faculdade em 2023.
1. Quem imaginam como o público alvo para este projeto?
Serão sobretudo pessoas que se interessam por política e por sondagens. Como é um tema que levanta alguma desconfiança, pelos diferentes resultados consoante as diferentes casas de sondagens que divulgam inquéritos no mesmo espaço de tempo, pretendemos também desmistificar alguns dos erros comuns que levam ao erro na altura de ler os resultados de uma sondagem. E, apesar de ser uma matéria um pouco de nicho, reúne muitos entusiastas.
2. Fizeram alguma transformação ou pré-processamento de dados para permitir uma visualização mais eficaz? Podem detalhar esses processos?
Os valores das sondagens foram tratados com uma distribuição dos indecisos puramente proporcional às intenções de voto obtidas pelos partidos, procurando eliminar potenciais diferenças de métodos entre casas de sondagens que, num modelo como o nosso, podem introduzir ruído. Contudo, a visualização dos dados não foi uma consideração nessa fase.
3. Tiveram dificuldade em aceder a dados? Se sim, como conseguiram ultrapassar isso?
A redistribuição dos indecisos para uniformizar os resultados das sondagens foi a maior dificuldade, porque nem todas as casas de sondagens as divulgam da mesma forma. Outro problema é o de ter a página atualizada diariamente, à medida que são publicadas as sondagens nos vários órgãos de comunicação. Uma vez que a Entidade Reguladora da Comunicação (ERC) apenas publica os inquéritos até 15 dias depois das sondagens serem divulgadas, contámos com a colaboração das próprias empresas e das publicações que divulgavam os resultados dos inquéritos para fazer o tratamento dos resultados.
4. Que linguagens de programação, bibliotecas ou ferramentas utilizaram para criar a visualização? Podem detalhar alguns aspetos técnicos do teu projeto?
A Sondagem das Sondagens já existe há alguns anos mas estava dormente desde as eleições legislativas de 2022. Este ano, aproveitando as capacidades desta nova equipa, optámos por renovar grande parte do processo. A base da página continua a mesma, mas foi necessário repensar como os dados alimentavam os gráficos. Assim, decidimos transformar o antigo script de R, que já vinha de 2019, num script de Python. Desta maneira, poderíamos facilitar o tratamento de dados por um maior número de pessoas, uma vez que esta linguagem é mais fácil de aprender. Neste ponto, contámos com a colaboração externa da Rita Marques Costa, que foi fundamental. Os gráficos em si também foram renovados. Recorremos à biblioteca billboard.js, que já tinha sido utilizada pela equipa inicial da Sondagem das Sondagens, e editamos as cores e as interações dos conteúdos, para aumentar a acessibilidade e a usabilidade das visualizações. Sabemos que há alterações necessárias e estamos a trabalhar para, num futuro próximo, melhorar alguns aspetos gráficos.
5. Que descobertas é que esta vossa visualização de dados revelou? Algo inesperado?
Tendo em conta a divulgação praticamente mensal de sondagens de intenção de voto e a forma como esses dados vão informando o discurso político e jornalístico, é difícil descobrir algo inesperado quando os dados se juntam todos. Mas não deixa de ser interessante olhar para as linhas dos partidos em determinadas datas - como o início de novembro de 2023, quando a Operação Influencer se tornou pública - e ver mudanças (ou reforços) de tendências que existiam até aí.
6. Qual tem sido o feedback?
Foi melhor do que esperávamos. Vimos e ouvimos especialistas em sondagens a mencionar o projeto como a maneira mais fiável de olhar para os inquéritos que eram divulgados como um todo e era mesmo isso que pretendíamos. Ao longo das semanas e da campanha eleitoral, a página foi tendo cada vez mais pessoas a usarem o projeto como referência para como os partidos estavam posicionados e os artigos paralelos à Sondagem das Sondagens que fomos publicando também ajudaram a explicar alguns dos fenómenos que depois se verificaram no dia das eleições.
7. Como imaginam a evolução do projeto no futuro?
Algo que queríamos ter feito nesta eleição e tivemos que cortar para melhorar a performance da página é mostrar mais dados históricos das sondagens – e combinar isso com marcos cronológicos importantes, como mudanças de governo.
Outra coisa que poderá estar na nossa mente é como usar os dados que temos para projetar uma composição da Assembleia da República - o que exigiria tratar os dados brutos da amostra das sondagens de forma separada.
Se tens algum projeto que gostavas de ver por aqui, envia-nos um comentário, mas lembra-te: deve ter sido realizado em Portugal 🇵🇹
Especial Cheias no Rio Grande do Sul
Como devem saber, o estado brasileiro do Rio Grande do Sul está a sofrer as maiores cheias da sua história – consequência das mudanças climáticas. Com isso, surgiram também diversos trabalhos de visualização de dados que tentam comunicar o tamanho da tragédia. Por isso, este mês selecionámos alguns que mais nos chamaram a atenção:
1. Água até aqui
Fixando autocolantes com o texto "água até aqui" pelas cidades, o projeto alerta para as consequências extremas da crise climática.
2. Dimensão Geral dos municípios afetados
O videógrafo Marcelo Carôllo criou vídeos que ilustram a dimensão da tragédia para quem não conhece o estado. Este trabalho mostra que, somando todas as cidades atingidas, o território afetado ultrapassa em duas vezes o de Portugal!
3. Comparação Porto Alegre x Lisboa e outras cidades
Para dar uma dimensão da escala da área afetada pelas cheias (considerando apenas a Região Metropolitana de Porto Alegre), a empresa de arquitetura e urbanismo Versa sobrepôs a mancha de inundação sobre o mapa de dez cidades.
4. Rendimentos
O Núcleo de Porto Alegre do Observatório das Metrópoles cruzou os dados das áreas inundadas com os dados de renda do Censo Demográfico e constatou que as áreas atingidas (Porto Alegre e região metropolitana) concentram principalmente populações mais pobres.
DOE E AJUDE OS AFETADOS PELAS CHEIAS
A Central Única das Favelas (CUFA) está a coordenar uma vasta operação humanitária no Rio Grande do Sul. Já foram destinados 20 mil kits de higiene e limpeza, 20 mil kits de higiene pessoal, 20 mil litros de água, cargas equivalentes a 5 camiões de alimentos, 30 mil kits de banho e 30 mil colchões. Doações internacionais podem ser feitas via PayPal, em doacoespaypal@cufa.org.br.
Acessibilidade e DataViz - Elementos Básicos de um Gráfico
Ao longo destes meses vamos dar-te pequenas dicas para tornares as tuas visualizações mais acessíveis.
(Se não viste as edições anteriores, começa por ler um pouco mais sobre Acessibilidade e vê aqui as dicas passadas).
Este mês, queremos focar-nos na estrutura básica de um gráfico e na importância de tornar as nossas visualizações claras e o mais auto-suficientes possível. Isto significa que qualquer pessoa que veja um gráfico isoladamente deve ter acesso a todos os dados necessários para a sua correta interpretação. Para além disso, numa altura em que a partilha de informação está tão massificada, com imagens facilmente retiradas de artigos ou sites e publicadas nas redes sociais, estas dicas serão fundamentais para evitar a desinformação:
Estrutura básica de um gráfico
Todos os gráficos devem incluir, no mínimo: título, variáveis e unidades, legendas, descrição das siglas usadas, fontes dos dados e, eventualmente, uma anotação. Na Figura 1 podes ver um exemplo de um gráfico com todas as informações; no entanto, dependendo do design a localização e formato destas informações pode mudar – o que importa é que estejam lá!
Títulos claros e informativos
Podes usar o título para fornecer mais informação sobre as conclusões a tirar do gráfico. Para facilitar a leitura o título não deve ser muito longo nem em maiúsculas. (ver Fig. 2)
Certos públicos precisam de mais contextoDependendo de para quem estás a comunicar, será necessário ajustar o detalhe da informação a dar. Se o público-alvo do teu gráfico são pessoas que não são especialistas no tema, terás de dar um pouco mais de contexto. Isto pode passar por um subtítulo e/ou uma anotação que aponte diretamente para a principal conclusão ou mensagem do teu gráfico (ver Fig. 2).
Atenção: dar mais contexto não é o mesmo que complexificar a informação, o que seria prejudicial para um público com pouco domínio no tema. Nada melhor do que testares previamente os teus gráficos com pessoas que nunca ouviram falar daquele tema, para perceber quais as conclusões que estas retiram dele.
Se gostas do nosso Pastel de Data, não hesites em encaminhá-lo para que outros o possam também saborear. Até ao próximo mês!
A tua Equipa do Data Visualization Lisboa,











